27.11.02

Fotos! Muitas fotos! Gastei seis filmes e ainda achei pouco. Tenho que pedir ao Jair para digitalizar tudo, e ver se é possível fazer uma animação com uma seqüência de fotos da minha namorada descendo uma duna correndo e acabando de cara no chão. Vai ficar muito engraçado!
Nem eu sabia o quanto estava precisando dessas férias. Uma pena ter acabado, mas foi bom demais. Estou até mais animado para voltar à rotina de me equilibrar entre clientes e fornecedores de oito a dez horas por dia. Sou um novo homem, por mais gay que isto pareça.
Foi tudo perfeito. Minha namorada estava meio quieta, retraída, mas compreendo isso. Mesmo passando por lugares que fazem a gente quase esquecer da vida, deve ter sido difícil para ela deixar de pensar na situação em que se encontra, sem emprego. Fora a raiva que ambos sentimos do ex-chefe dela, aquele crápula. Mas isso é passado, e sei que estará totalmente superado em pouco tempo. E sei também que a viagem fez muito bem a ela: Estava muito feliz quando chegamos a São Paulo, muito animada. Bendita hora em que eu tive a idéia dessa viagem! É tudo lindo demais: Itacaré, Ilhéus, Arraial D'Ajuda, Trancoso, Itaúnas, Guarapari, Piúma, Búzios, Cabo Frio, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Paraty, Trindade, meu Deus! Cada lugar que eu via era uma surpresa maior. Em Trancoso, por exemplo, quando chegamos ao mirante que fica atrás da igreja, fiquei boquiaberto com a paisagem.
– Isso aqui é muito bonito! Olha esse mar! Esse céu! Olha que areia branquinha! Não dá vontade de morar num lugar assim?
– Ahã.
– Podíamos nos mudar mesmo. Largar aquela loucura toda e vir pra cá.
– É.
– Que cê tem?
– Nada.
– Tá tão quieta, desanimada. Preocupada com emprego, essas coisas?
– Não. Não é nada.
– Ah, que bom! Hum... Você tá passando protetor solar? Seu ombro está vermelho.
– Estou sim.
– Ah, então tá bom.
Estranho, porque dois dias depois ela mal conseguia dormir, de tão queimada. Mas comprei um protetor fator 50, um creme para aliviar as queimaduras e ficou tudo bem. Ela ainda teve uma dor de barriga dias depois, por causa de uma moqueca capixaba. Fora isso, tudo transcorreu na maior normalidade. Normalidade? O que eu estou dizendo? Foi excepcional, maravilhoso, único!
Enfim, foi bom mas acabou. Agora é esperar um ano para talvez repetir a dose. Nem penso nisso, no entanto: Minha preocupação é com minha namorada. Ela vive lendo os classificados dos jornais, procura na Internet, envia dezenas de currículos. Algumas empresas chamam para uma entrevista, prometem ligar e não ligam. Às vezes chego em casa e ela está no sofá, o olhar fixo no telefone. Eu tento ajudar, acho que todas as pessoas que conheço já têm o currículo dela em mãos. Mas está difícil. E isso começa a afetar nossa vida. Ela agora resolveu desenvolver uma mania de limpeza. Dia desses cheguei e quase fiquei cego com o brilho do balde de gelo sobre a mesa. O poodle vive pelos cantos, ressabiado por causa dos banhos constantes. Ontem mesmo o gato estava correndo pela sala, num daqueles inexplicáveis surtos de atividade que os gatos têm. Tentou parar antes de chegar à parede, mas saiu patinando e foi bater com a cabeça na porta. Pobre gato. E eu também vivo escorregando nesse piso ultraencerado.
Sugeri que procurasse trabalho em outra área, porque esse negócio de informática é muito estressante, mas ela não mostrou grande interesse. Falei com um amigo meu, dono de um estúdio de gravação, e ele disse que talvez tivesse uma vaga por lá. Ela não se animou muito, mas vai ver do que se trata. Espero que dê em alguma coisa, não suporto mais esse apartamento brilhando desse jeito.

Às vezes parece que o Diabo fica entediado lá no inferno e vem até a Terra para se divertir às nossas custas. Foi o que aconteceu há três di...